segunda-feira, 30 de maio de 2011

Robert Musil (1880-1942) - escritor austríaco

“Há sempre um momento em que não sabemos mais se estamos mentindo, ou se o que inventamos é mais verdadeiro do que nós próprios.”

“A primeira paixão adolescente não é amor por uma pessoa, e sim ódio a todas as pessoas. Sentir-se incompreendido e não compreender o mundo não é o efeito de uma primeira paixão, mas sua causa. A paixão é apenas um refúgio, no qual estar com o outro significa solidão duplicada.”

“(...) todo caminho leva a um bom objetivo, desde que não se hesite ou reflita demais. Os objetivos são a curto prazo; mas também a vida é curta, e assim conseguimos arrancar dela um máximo de realização. A pessoa não precisa mais que isso para ser feliz, pois aquilo que se obtém modela a alma, enquanto aquilo que se deseja, sem conseguir, apenas a deforma; para a felicidade importa muito pouco o que se deseja, mas apenas que seja obtido.”

“Se, por exemplo, se julga uma reprodução mais artística do que um quadro pintado a mão, existe nisso uma verdade mais fácil de provar do que provar que Van Gogh foi um grande artista. Assim, é muito fácil e compensador ser um dramaturgo mais forte do que Shakespeare e um narrador mais equilibrado do que Goethe: e um verdadeiro lugar-comum é sempre mais humano do que uma nova descoberta. Não há nenhum pensamento importante que a burrice não saiba usar, ela é móvel para todos os lados e pode vestir todos os trajes da verdade. A verdade, porém, tem apenas um vestido de cada vez, e um só caminho, e está sempre em desvantagem.”

“No fundo, poucos sabem, no meio da sua vida, como se tornaram aquilo que são, com seus prazeres; sua visão do mundo, sua esposa, seu caráter, profissão e realizações, mas têm a sensação de que já não se poderá mudar lá muita coisa. Até se poderia afirmar que foram traídas, pois não se encontra em lugar algum uma razão suficientemente forte para tudo ter sido como é; poderia ter sido diferente; os acontecimentos raramente dependeram delas, em geral dependeram de uma série de circunstâncias, do capricho, vida, morte de outras pessoas, e apenas se lançaram sobre elas num momento determinado. Assim, na juventude ainda jazia à frente delas algo que pode pretender ser a vida delas; isso é tão surpreendente como certo dia, de súbito, vermos uma pessoa com quem nos correspondemos durante vinte anos sem a conhecer, e a tínhamos imaginado tão diferente.”
“Alguém disse que era preciso olhar para dentro da alma humana, para fixá-la então em três dimensões. E alguém fez a pergunta agressiva e de muito efeito: afinal, o que era mais importante – dez mil homens famintos ou uma obra de arte? (...) dez mil obras de arte compensariam a miséria de uma pessoa?”

“Quando uma vida é intensa não se pode exigir que seja boa.”

“Épocas em que tudo é permitido sempre trazem infelicidade aos que nela vivem. Disciplina, renúncia, cavalheirismo, música, moral, poesia, forma, proibição, tudo isso tem um objetivo mais profundo do que apenas conferir à vida uma forma limitada e determinada. Não existe felicidade sem limites. Não existe grande felicidade sem grandes proibições.”

“(...) política, honra, guerra, arte, os fatos decisivos da vida realizam-se além do entendimento. A grandeza do homem está enraizada no irracional.”

“Um artista só pode fazer boa música se não tiver escrúpulos.”

sábado, 28 de maio de 2011

Rainer Maria Rilke (1875-1926) - escritor tcheco

“Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade: é a natureza da sua origem que a julga.”

“Quase tudo o que é grave é difícil; e tudo é grave.”

“Começará o tempo de outras interpretações, e não ficará palavra sobre palavra, e todo sentido se dispersará como as nuvens e se precipitará como água.”
“O medo de que um pequeno fio de lã que se destaca da bainha do cobertor seja duro, duro e afiado como uma agulha de aço; o medo de que esse botãozinho de meu camisolão seja maior do que minha cabeça, grande e pesado; o medo de que esse farelinho de pão que agora cai da minha cama seja de vidro e se espatife no chão, e a preocupação opressiva de que com ele tudo, realmente tudo, esteja quebrado para sempre; o medo de que a tira rasgada do canto de um envelope seja algo proibido, que ninguém deveria ver, algo indescritivelmente precioso, para o qual não há no quarto lugar seguro o bastante; o medo de que ao pegar no sono eu engula o pedaço de carvão jogado diante do fogão; o medo de que um número qualquer comece a crescer em minha cabeça até que não tenha mais espaço dentro de mim; o medo de estar deitado sobre granito, granito cinza; o medo de que eu pudesse gritar e que as pessoas se aglomerassem diante da minha porta e acabassem por arrombá-la, o medo de que eu pudesse me trair e dizer tudo aquilo de que tenho medo, e o medo de que não pudesse dizer nada porque tudo é indizível – e os outros medos... Os medos.”

“Na vida não há classes para iniciantes; o que se exige de uma pessoa logo é sempre o mais difícil.”


Orson Welles (1915-1985) - cineasta norte-americano

“Veja, há dois tipos de pessoas no mundo: aquelas que dão e aquelas que pedem; aquelas que não se importam em dar e aquelas que não ousam pedir.”

“Nós nascemos sozinhos, vivemos sozinhos e morremos sozinhos. Somente através do amor e das amizades é que podemos criar a ilusão, durante um momento, de que não estamos sozinhos.”
“Qualquer carreira no mundo artístico, é uma montanha-russa e muitos sucessos resultam da combinação de várias circunstâncias felizes. Mas deve existir algo mais também.”

“Eu assinalo apenas as horas felizes, exatamente com um relógio de sol.”

“Os santos e os artistas não se evidenciaram na história, pelo seu conformismo e é um fato evidente mas esquecido de que não existe arte ou artista domado, dominado ou posto de quatro.”

Franz Kafka (1883-1924) - escritor tcheco

“Já sabe, os empregados subalternos sabem sempre mais que seu superior.”

“Alguém me disse – já me não lembro quem – que era maravilhoso encontrar ao despertar-se, pelo menos em geral, tudo no mesmo lugar em que se tinha deixado na noite anterior. Mas quando alguém dorme e sonha em um estado pelo menos na aparência totalmente diferente do da vigília, existe, como aquele homem afirmava com plena razão, uma espécie de presença de espírito infinita ou melhor dito de alerta espiritual para, como com os olhos abertos, perceber de certo modo todas as coisas no mesmo lugar em que se deixou à noite. Por isso o momento de despertar é o momento mais arriscado do dia. Uma vez que se passou por ele sem que se tenha percebido que nada foi mudado de seu lugar, pode alguém encarar o dia com confiança.”
“As palavras são maus alpinistas e maus mineiros. Elas não resgatam os tesouros do cume das montanhas nem os de suas profundezas.”

“Tudo o que não é literatura me aborrece, e odeio até mesmo as conversas sobre literatura.”

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Fernando Pessoa (1888-1935) - poeta português

“A finalidade da arte não é agradar. O prazer é aqui um meio; não é nesse caso um fim. A finalidade da arte é elevar.”

“Há as artes cujo fim é entreter, que são a dança, o canto e a arte de representar. Há as artes cujo fim é agradar, que são a escultura, a pintura e a arquitetura. Há as artes cujo fim é influenciar, que são a música, a literatura e a filosofia.”

“Cada minuto que passa é um milagre que não se repete.”

“O coração, se pudesse pensar, pararia.”

“Tudo me interessa e nada me prende.”

“Não saber de si é viver. Saber mal de si é pensar.”
“Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver. Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar.”

“A ruína dos ideais clássicos fez de todos, artistas possíveis, e portanto maus artistas. Quando o critério da arte era a construção sólida, a observância cuidada de regras – poucos podiam tentar ser artistas, e grande parte desses são muito bons. Mas quando a arte passou de ser tida como expressão de sentimentos, cada qual podia ser artista, porque todos têm sentimentos.”

“Todos temos por onde sermos desprezíveis. Cada um de nós traz consigo um crime feito ou o crime que a alma lhe pede para fazer.”

“Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.”

“Um dos malefícios de pensar é ver quando se está pensando. Os que pensam com o raciocínio estão distraídos, os que pensam com a emoção estão dormindo, os que pensam com a vontade estão mortos.”

“Só o que sonhamos é o que verdadeiramente somos, porque o mais, por estar realizado, pertence ao mundo e a toda a gente.”

“Reparo que entre a vida dos homens e a dos animais não há outra diferença que não a da maneira como se enganam ou a ignoram. Não sabem os animais o que fazem: nascem, crescem, vivem, morrem sem pensamento, reflexo ou verdadeiramente futuro. Quantos homens, porém, vivem de modo diferente do dos animais? Dormimos todos, e a diferença está só nos sonhos, e no grau e qualidade de sonhar. Talvez a morte nos desperte, mas a isso também não há resposta senão a da fé, para quem crer é ter, a da esperança, para quem desejar é possuir, a da caridade, para quem dar é receber.”

“Não há nada mais simbólico da vida do que aquelas notícias dos jornais que desmentem hoje o que o próprio jornal disse ontem.”

“A bondade é a delicadeza das almas grosseiras.”
“Cada um de nós é dois, e quando duas pessoas se encontram, se aproximam, se ligam, é raro que as quatro possam estar de acordo.
(...)
Toda a aproximação é um conflito. O outro é sempre o obstáculo para quem procura. Só quem não procura é feliz; porque só quem não busca, encontra, visto que quem não procura já tem, e já ter, seja o que for, é ser feliz, como não pensar é a parte melhor de ser rico.
(...)
O meu hábito de sonhar claro dá-me uma noção justa da realidade. Quem sonha de mais precisa dar realidade ao sonho. Quem dá realidade ao sonho tem que dar ao sonho equilíbrio da realidade. Quem dá ao sonho o equilíbrio da realidade, sofre da realidade de sonhar tanto como da realidade da vida e do irreal do sonho como do sentir a vida irreal.”

Cícero (106 a.C - 43 a.C) - filósofo e orador romano

“A herança de uma juventude voluptuosa ou libertina é um corpo extenuado.”

“Conta-se que Mílon fez sua entrada no estádio de Olímpia carregando um boi sobre os ombros. O que vale mais? Ter esse vigor físico ou aquele, inteiramente intelectual, de Pitágoras? Em suma, usemos tal vantagem quando a tivermos e não a lamentemos quando ela desapareceu. Acaso os adolescentes deveriam lamentar a infância e depois, tendo amadurecido, chorar a adolescência? A vida segue um curso muito preciso e a natureza dota cada idade de qualidades próprias. Por isso a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice são coisas naturais que devemos apreciar cada uma em seu tempo.”
“A amizade nos foi dada pela natureza como auxiliar de nossas virtudes, não como cúmplice de nossos vícios.”

“Consolo-me a mim mesmo e pelo melhor dos consolos: procurando não incidir no erro que atormenta geralmente as pessoas após o falecimento de seus amigos. Não penso que um infortúnio tenha atingido Cipião; atingiu a mim, se atingiu alguém; suportar tristemente suas próprias misérias não é amar um amigo: é amar a si mesmo.”

quinta-feira, 26 de maio de 2011

André Malraux (1901-1976) - escritor francês


“O mundo está ficando muito parecido com os meus romances.”

“Que me importa aquilo que só a mim importa?”

“Entre 18 e 20 anos, a vida é como um mercado onde se compram valores, não com dinheiro, mas com atos. A maior parte das pessoas não compra nada.”


“São precisos 60 anos para fazer um homem e em seguida só lhe resta morrer.”

“O Estado não é feito para dirigir a arte, mas para servi-la.”

“A vida não vale nada, mas nada vale uma vida.”

Charles Bukowski (1920-1994) - escritor norte-americano


“Cortar fora as asas de um homem é um pouco semelhante a cortar fora o seu pau.”

“As cidades são construídas para matar as pessoas, e há cidades de sorte e há as de outro tipo. A maioria do outro tipo.”

“É isso o que a amizade significa: compartilhar os preconceitos da experiência.”

“Os tribunais são lugares onde o final é escrito primeiro e tudo o que vem antes não passa de comédia.”


“Quando você deixa sua máquina de escrever você deixa a sua metralhadora e os ratos surgem aos borbotões.”

“Não se pode dar a um homem um novo governo como um novo chapéu e esperar um homem diferente dentro desse chapéu.”

“O amor é um caminho com algum significado. O sexo já é significado suficiente.”


segunda-feira, 23 de maio de 2011

Vladimir Nabokov (1899-1977) - escritor russo


“Não sei se alguém observou que uma das principais características da vida é o fato de que ela exige um invólucro. A menos que uma película de carne nos envolva, morremos. O homem só existe na medida em que está separado daquilo que o circunda. O crânio é o capacete de um astronauta: mantém-te dentro dele ou morrerás. Morrer é despojar-se, a morte é comunhão. Pode ser maravilhoso mesclar-se à paisagem, mas fazê-lo significa o fim do tenro ego.”


“Algumas pessoas – entre as quais me incluo – odeiam os finais felizes. Sentimo-nos ludibriados. O infortúnio é a regra, as engrenagens do destino aziago nunca deveriam ficar emperradas. A avalanche que se detém alguns metros acima da aldeia acocorada comete um atentado não só contra a natureza, mas também contra a ética.”

“Esta neblina é uma montanha e esta montanha deve ser conquistada.”

“A solidão é o parque de diversões de satã.”

“Quando a vida caminha mais lentamente, a gente repara nas coisas secundárias.”

Martin Amis (1949) - escritor britânico


“Escrever é uma forma de infidelidade. Qualquer coisa escrita é uma forma de infidelidade.”

“O criminoso tem a ver com o artista em sua pretensão, em sua incompetência e em sua autocomiseração.”

“Os poetas conquistavam as mulheres. Não conquistavam mais nada, e as mulheres sabiam disso; e é por isso que conquistavam as mulheres.”

Martin e Kingsley Amis

“Existe uma linda lei literária, um tanto gasta e desbotada, mas linda mesmo assim, que diz o seguinte: quanto mais fácil for escrever alguma coisa, mais o escritor há de ganhar por escrevê-la. (E vice-versa: basta perguntar ao poeta parado no ponto de ônibus.)”

“É certamente essa explicação para o tom sombrio e invariavelmente melancólico da literatura do século XX. Esses escritores, esses sonhadores e exploradores, se amontoam como trêmulos filhotes abandonados à beira do precipício de um estranho mundo novo: um mundo sem empregadas domésticas.”

sábado, 21 de maio de 2011

Somerset Maugham (1874-1965) - escritor britânico


“Não é verdade que o sofrimento enobrece o caráter, a felicidade às vezes faz isso, mas o sofrimento, na maioria dos casos, torna as pessoas vingativas e mesquinhas.”

“Só o poeta ou o santo conseguem regar o asfalto com a confiança de que conseguirão colher lírios como recompensa de seu trabalho.”

“A vida não é longa o suficiente para o amor e a arte.”

“É triste que a aparência de um homem às vezes não condiga em nada com o que se passa em sua alma.”

“O escritor preocupa-se mais em saber do que em julgar.”

“O dia tem 24 horas, e apenas em pequenos intervalos a emoção alcança seu auge.”


“Existem homens que nasceram para viver solteiros, mas que, por vontade própria ou por circunstâncias que não podem evitar, acabam contrariando seu destino. Não existe objeto mais digno de pena que o solteirão casado.”

“O vagabundo, como o artista e talvez o cavalheiro, não pertence a nenhuma classe. Não fica embaraçado pela sem-cerimônia do imigrante, nem pela etiqueta do príncipe.”

“Não faz mal nenhum levar um pontapé no traseiro quando se tem a barriga cheia.”

“Um homem não é aquilo que deseja ser, mas aquilo que deve ser.”

“A vida é dura, e a Natureza às vezes se regozija em torturar seus filhos.”

“Os moinhos de Deus moem lentamente, mas deixam os grãos bem moídos.”

Hermann Hesse (1877-1962) - escritor alemão

Hermann Hesse por Andy Warhol
“Hoje sei muito bem que nada na vida repugna tanto ao homem do que seguir pelo caminho que o conduz a si mesmo.”

“Falamos em demasia. As palavras engenhosas não têm qualquer valor, absolutamente nenhum. Só conseguem afastar-nos de nós mesmos. E afastar-se de si mesmo é um pecado. É preciso que se saiba encerrar-se em si mesmo, como a tartaruga.”

“A infância se desfez em ruínas. Meus pais me olhavam com certo embaraço. Minhas irmãs chegaram a parecer-me estranhas. Uma vaga desilusão foi debilitando e esfumando meus sentimentos e minhas alegrias habituais; o jardim já não tinha perfume, o bosque não mais me atraía, o mundo se estendia ao meu redor como um saldo de trastes velhos, insípido e desencantado; os livros eram papel; a música, ruído. Exatamente como a árvore do outono ao perder suas folhas que lhe caem ao redor, sem senti-lo e quando a chuva, a geada e o sol lhe resvalam pelo tronco, enquanto a vida se retira para o mais íntimo e recôndito de si mesma. Não morre. Espera.”

“Desde criança sempre me agradava contemplar as formas estranhas da natureza, não como observador que investiga, mas abandonando-me apenas ao seu encanto peculiar, à sua profunda e complexa linguagem. As longas raízes das árvores, os veios coloridos das pedras, as manchas de óleo sobrenadando na água, as fendas dos cristais, todas as coisas desse gênero tiveram desde muito para mim um singular encanto, como também a água e o fogo, a fumaça, as nuvens, o pó, e sobretudo as luminosas máculas que via movendo-se ao fechar os olhos.”

“Se toda a humanidade perecesse, com exceção de uma só criança mediamente dotada, esse menino sobrevivente tornaria a encontrar o curso das coisas e poderia criar tudo de novo: deuses, demônios e paraísos, mandamentos e proibições, antigos e novos Testamentos.”

“Há muita diferença entre levarmos simplesmente o mundo em nós mesmos e conhecê-lo. Um louco pode expor idéias que lembrem as de Platão e um colegial devoto pode criar em sua imaginação profundas conexões mitológicas que aparecem nas doutrinas dos gnósticos ou de Zoroastro. Mas sem sabê-lo! E enquanto não sabe, é uma árvore ou uma pedra, ou quando muito um animalzinho. Não creio que se possam considerar homens todos esses bípedes que caminham pelas ruas, simplesmente porque andam eretos ou levem nove meses para vir à luz. (...) muitos deles não passam de peixes ou de ovelhas, vermes ou sanguessugas, formigas ou vespas. Todos eles revelam possibilidades de chegar a ser homens, mas só quando vislumbram e aprendem a levá-las em parte à sua consciência é que se pode dizer que possuem uma...”


“Quando odiamos um homem, odiamos em sua imagem algo que trazemos em nós mesmos. Também o que não está em nós mesmos nos deixa indiferentes.”

“(...) a maioria das criaturas humanas é como folha arrancada, a flutuar e revolver-se no ar, até ir ao chão. Outras, porém, parecem-se com os astros que andam numa órbita fixa, sem que nenhum vento possa alcançá-los, e têm em si próprios sua lei e sua rota.”

“Procuras demais, que de tanta busca, não tens tempo para encontrar coisa alguma. (...) Quando alguém procura muito pode facilmente acontecer que seus olhos se concentrem exclusivamente no objeto procurado e que ele fique incapaz de achar o que quer que seja, tornando-se inacessível a tudo e a qualquer coisa porque sempre só pensa naquele objeto, e porque tem uma meta, que o obceca inteiramente, procurar significa: ter uma meta. Mas achar significa: estar livre, abrir-se a tudo, não ter meta alguma.”

“A sabedoria não pode ser comunicada. A sabedoria que um sábio quiser transmitir sempre cheirará a tolice. (...) Os conhecimentos podem ser transmitidos, mas nunca a sabedoria. Podemos achá-la; podemos vivê-la; podemos consentir em que ela nos norteie; podemos fazer milagres através dela. Mas não nos é dado pronunciá-la e ensiná-la.”

"Não faço muita distinção entre palavras e idéias. Para falar com toda a franqueza: não ligo grande importância às próprias idéias. As coisas para mim têm muito maior significado.”

“As coisas têm, a meu ver, mais valor do que as palavras. O gesto da sua mão me importa mais do que as suas opiniões. Não é nos seus discursos e nas suas idéias que se me depara a sua grandeza, senão unicamente nos seus atos e na sua vida.”

“Veja só esta frase: “O homem devia orgulhar-se da dor; toda dor é uma manifestação de nossa elevada estirpe.” Magnífico! Oitenta anos antes de Nietzsche! Mas não é esta a passagem que eu pensava mostrar-lhe... Espere, aqui está. Ouça: “A maioria dos homens não quer nadar antes que o possa fazer.” Não é engraçado? Naturalmente, não querem nadar. Nascemos para andar na terra e não para a água. E, naturalmente, não querem pensar: foram criados para viver e não para pensar! Isto mesmo! E quem pensa, quem faz do pensamento sua principal atividade, pode chegar muito longe com isso, mas, sem dúvida, estará confundindo a terra com a água e um dia morrerá afogado.”