sábado, 25 de junho de 2011

Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944) - escritor francês


“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.”

“Quando a gente acaba a toalete da manhã, começa a fazer com cuidado a toalete do planeta.”

“É tão misterioso, o país das lágrimas!”

“Para os reis, o mundo é muito simplificado. Todos os homens são súditos.”

“É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar. A autoridade repousa sobre a razão. Se ordenares a teu povo que ele se lance ao mar, farão todos revolução.”

“É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues julgar-te bem, eis um verdadeiro sábio.”

“Quando a gente quer fazer graça, mente às vezes um pouco.”

“As estrelas são todas iluminadas... Não será para que cada um possa um dia encontrar a sua?”

“A gente está um pouco só no deserto. Entre os homens também.”

“Eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...”

“Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas.”

“É muito simples: só se vê com o coração. O essencial é invisível para os olhos.”

“Eu sempre amei o deserto. A gente se senta numa duna de areia. Não se vê nada. Não se escuta nada. E, no entanto, no silêncio, alguma coisa irradia...”

“O que torna belo o deserto é que ele esconde um poço nalgum lugar.”

“Todas as estrelas estão floridas.”

J. D. Salinger (1919-2010) - escritor norte-americano

“Parece-me indiscutível que muita gente no mundo todo, malgrado as diferenças de idade, cultura e dotes naturais, reage com ímpeto especial em certos casos até mesmo febril, aos artistas e poetas que, além da reputação de produzirem arte de alta qualidade, têm algo de extravagantemente errado como indivíduos: um defeito espetacular de caráter ou de comportamento cívico, uma desgraça ou vícios supostamente românticos – extremo egotismo, infidelidade conjugal, surdez, cegueira, sede insaciável, tosse mortal, fraqueza por prostitutas, certa parcialidade em favor do adultério ou do incesto em larga escala, queda comprovada ou não pelo ópio ou pela sodomia etc. etc. Deus tenha piedade dessas solitárias criaturas. Se o suicídio não encabeça o rol das constrangedoras enfermidades dos homens criativos, é impossível negar que o poeta ou artista suicida sempre mereceu uma grande dose de ávida atenção, com freqüência por razões meramente sentimentais, como se ele fosse (para colocar a coisa de maneira muito mais horrível do que realmente desejo) o filhote estropiado da ninhada.”

“Quanto mais caro um colégio, mais gente safada tem.”

“Não me agrada muito ver um sujeito velho de pijama ou roupão. Fica sempre aparecendo o peito, todo ossudo e encalombado. E as pernas. Perna de gente velha na praia é sempre branca e sem cabelo.”

“Se me sentisse um pouquinho melhor ia ter que chamar um médico.”

“(Sacudi a cabeça. Eu costumo sacudir a cabeça um bocado.) – Puxa! – disse. Eu também vivo dizendo “Puxa!”, em parte porque tenho um vocabulário horroroso, e em parte porque às vezes me comporto como se fosse um garoto. Naquele tempo eu tinha 16 anos – estou com 17 agora – mas de vez em quando me comporto como se tivesse uns treze. E a coisa é ainda mais ridícula porque tenho um metro e oitenta e cinco e já estou cheio de cabelos brancos. Estou mesmo. Um lado da minha cabeça – o direito – tem milhões de cabelos brancos desde que eu era um garotinho. Apesar disso, às vezes me comporto como se tivesse doze anos. É o que todo mundo diz, principalmente meu pai. Até certo ponto é verdade, mas não é totalmente verdade. As pessoas estão sempre pensando que alguma coisa é totalmente verdadeira. Eu nem ligo, mas tem horas que fico chateado quando alguém vem dizer para me comportar como um rapaz da minha idade. Outras vezes, me comporto como se fosse bem mais velho – no duro – mas aí ninguém repara. Ninguém nunca repara em coisa nenhuma.”

“Não é preciso pensar muito quando se fala com um professor.”

“Todos os imbecis detestam ser chamados de imbecis.”

“Normalmente, eu gosto de andar de trem, principalmente de noite, com as luzes acesas e as janelas tão escuras, e um desses sujeitos passando pelo corredor, vendendo café, sanduíches e revistas. Normalmente eu compro um sanduíche de presunto e mais ou menos quatro revistas. Num trem, de noite, sou até capaz de ler uma dessas estórias imbecis sem vomitar de nojo. Uma dessas estórias com uma porção de machões de queixo ossudo, chamados David, e uma porção de garotas bestas chamadas Linda ou Márcia, que estão sempre acendendo os cachimbos dos David para eles. Normalmente, consigo ler até mesmo uma dessas estórias cretinas se estou andando de trem, de noite. Mas dessa vez foi diferente. Pura e simplesmente, não estava no estado de espírito necessário. A única coisa que fiz foi tirar meu chapéu de caça e guardá-lo no bolso. De repente, uma dona tomou o trem em Trenton e sentou ao meu lado. Já era um bocado tarde e tudo, e por isso o vagão estava praticamente vazio, mas ela sentou bem ao meu lado, e não em qualquer banco vazio, porque vinha carregando uma mala enorme e eu estava logo no corredor, onde o condutor ou qualquer um podia tropeçar nela. Estava usando umas orquídeas, como se tivesse acabado de sair de uma baita duma festa ou coisa parecida. Acho que ela devia ter uns quarenta ou quarenta e cinco anos, mas era um bocado bonita. Sou doido por mulher. No duro. Não que eu seja nenhum tarado nem nada, embora seja bastante macho. O negócio é que eu gosto mesmo das mulheres. Elas estão sempre deixando a porcaria das malas delas bem no meio dos corredores.”

“A maioria das pessoas ou não sabem sorrir ou têm um sorriso pavoroso.”

“... tinha tanta sensibilidade quanto um assento de privada.”

“Não faz mal. A gente pode fumar até eles começarem a reclamar.”

“Quando estou com gente burra fico burro também.

“Não há uma boate no mundo onde a gente possa ficar muito tempo, a não ser que tome umas e outras e fique logo de porre. Ou então, a não ser que a gente esteja com alguma garota que deixe o sujeito maluco.”

“Ele é tão bom que chega quase a ser chato.”

“As pessoas estão sempre atrapalhando a vida da gente!”

“As pessoas sempre batem palmas pelas coisas erradas. Se eu fosse pianista, ia tocar dentro de um armário. Juro por Deus que, se fosse um pianista, ou um autor, ou coisa que o valha, e todos aqueles bobalhões me achassem fabuloso, ia ter raiva de viver. Não ia querer nem que me aplaudissem.”

“O que eu não gasto, acabo perdendo.”

“O vestíbulo estava inteiramente deserto, cheirando a cinqüenta milhões de cigarros apagados.”

“Não é nada engraçado ser covarde.”

“Dinheiro é uma droga. Acaba sempre fazendo a gente se sentir triste pra burro.”

“Quem é que quer flores depois de morto? Ninguém.”

“É engraçado, basta a gente dizer alguma coisa que ninguém entende para que façam praticamente tudo que a gente quer.”

“É gozado, os adultos ficam horríveis quando estão dormindo de boca aberta, mas as crianças não. As crianças ficam cem por cento. Podem até ter babado todo o travesseiro, que continuam cem por cento.”

terça-feira, 21 de junho de 2011

Rubem Fonseca (1925) - escritor brasileiro


“O diálogo é sabidamente um recurso dos escritores medíocres.”

“(...) uma pessoa nua só pode dizer ou uma verdade óbvia ou uma mentira óbvia.”

“A verdade fundamental que todo escritor cedo ou tarde tem que descobrir: as palavras não são nossas amigas. Uma verdade simples: as palavras são nossas inimigas. Eu descobri tarde demais.”

“Só com a roupa do corpo uma mulher não vai muito longe.”

“Se tivermos que julgar um homem por um único ato, e se pudéssemos escolher esse ato, deveríamos avaliar a maneira como ele se olha no espelho.”

“Será que é tarefa do escritor trazer mais medo a este mundo? Será este um propósito do ser humano? Sim, sim, o objetivo honrado do escritor é encher os corações de medo, é dizer o que não deve ser dito, é dizer o que ninguém quer dizer, é dizer o que ninguém quer ouvir. Esta é a verdadeira poiesis.”

“(...) um idiota que percorria todos os dias as ruas de uma aldeia de pescadores gritando “eu vi a sereia, eu via a sereia!”e que um dia viu realmente a sereia ficou mudo. O poeta é como esse bobo da aldeia? Se o confronto com a realidade ofuscar sua imaginação ele também ficará mudo?”

William Faulkner (1897-1962) - escritor norte-americano


“Posso me lembrar de como quando era jovem eu acreditava que a morte era um fenômeno do corpo; agora sei que é apenas uma função da mente – e da mente daqueles que sofrem a perda de alguém. Os niilistas dizem que é o fim; os fundamentalistas, o começo; quando na realidade não é mais do que um simples inquilino ou uma família deixando uma casa ou uma cidade.”

“(...) se a única salvação de um homem é mesmo o casamento, então ele está perdido de vez.”

“As pessoas parecem se afastar cada vez mais do velho princípio que diz que devemos pregar bem os pregos e aparar bem as pontas sempre como se estivéssemos fazendo isso para o nosso próprio uso e conforto. É como se algumas pessoas tivessem as pranchas suaves e polidas para construir um galinheiro. Mas é melhor construir um galinheiro bem feito do que construir um tribunal malfeito, e se forem bem ou mal construídos não importa porque não é um ou outro que vai fazer um homem se sentir bem ou mal.”

Guy de Maupassant (1850-1893) - escritor francês


“Festa da República. Passeei pelas ruas. Os petardos e as bandeiras me divertiam como se fosse uma criança. No entanto, é uma grande tolice ficar alegre em data fixa, por decreto do governo. O povo é um rebanho imbecil, ora estupidamente paciente, ora ferozmente revoltado. Dizem-lhe: “Diverte-te.” Ele diverte-se. Dizem-lhe: “Vai lutar com teu vizinho.” Ele vai. Dizem-lhe: “Vota pelo Imperador.” Ele vota pelo Imperador. Depois, dizem: “Vota pela República.” E ele vota pela República. Os que o dirigem são igualmente imbecis; mas, em vez de obedecerem a homens, eles obedecem a Princípios, os quais só podem ser tolos, estéreis e falsos, pelo próprio fato de serem princípios, isto é, idéias consideradas certas e imutáveis, neste mundo onde não se tem certeza de nada, já que a luz é uma ilusão, já que o ruído é uma ilusão.”

“De fato, a solidão é perigosa para as inteligências que trabalham. Necessitamos, à nossa volta, de homens que pensem e que falem. Quando permanecemos muito tempo sozinhos, povoamos o vazio de fantasmas.”

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Thomas Mann (1875-1955) - escritor alemão


“A doença absolutamente não é nobre, e nem um pouquinho digna de reverência. Essa concepção é por si mesma mórbida ou leva à morbidez. O método mais acertado de despertar repugnância contra ela, talvez seja dizer que é velha e feia. Tem ela a sua origem em épocas supersticiosas, acossadas de remorsos, e nas quais a idéia do humano, privada de toda dignidade, degenera a ponto de se tornar uma caricatura, épocas angustiadas, que consideravam a harmonia e o bem-estar como coisas suspeitas, diabólicas, ao passo que a debilidade equivalia a um passaporte para o céu. Mas a razão e o esclarecimento dissiparam essas sombras que pairavam sobre a alma da humanidade; verdade é que ainda não terminaram a sua obra, e a luta continua. Essa luta chama-se trabalho, trabalho terreno, trabalho em prol da Terra, da honra e dos interesses da humanidade. E temperadas, dia a dia, por essa luta, aquelas forças acabarão por libertar o homem e por guiá-lo pelos caminhos do progresso e da civilização, rumo a uma luz cada vez mais clara, mais sua e mais pura.”

“Há duas atitudes: a livre e a piedosa. Ambas têm as suas vantagens, mas o que me faz antipatizar com a atitude livre, é que ela pretende ter o monopólio da dignidade. Isso é exagerado. A outra atitude encerra também a seu modo, muita dignidade humana e resulta num vasto conjunto de decência, de procedimento correto e de nobre cerimonial, muito mais do que a atitude livre, embora vise especialmente à fraqueza e à instabilidade dos homens e nela desempenhe um papel importante o pensamento da morte e da decomposição.”
Heinrich e Thomas Mann
“Nada é mais estranho, mais melindroso que a relação de pessoas que só se conhecem de vista – que diariamente, em cada hora mesmo, se encontram, se observam; são obrigadas a manter a aparência de indiferente estranheza, sem cumprimento, sem palavra, pela ética ou capricho pessoal. Entre eles há inquietação e curiosidade sobreexcitada, a histeria de uma insatisfeita e artificialmente oprimida necessidade de conhecimento e intercâmbio, e principalmente também uma espécie de respeitoso interesse. Pois o homem ama e respeita o homem enquanto não consegue julgá-lo; e o anseio é o produto de um conhecimento falho.”

“O desespero é algo deselegante e imoral.”
Thomas Mann com Albert Einstein em Princeton em 1938

Anthony Trollope (1815-1882) - escritor britânico


“(...) em matéria de amor, os homens não enxergam direito seus próprios casos. Dizem que um coração débil jamais conquistará uma bela dama; e é surpreendente ver-se quantas belas damas são conquistadas, embora débeis sejam geralmente os corações dos homens! Não fosse a bondade da natureza das damas que, vendo a fragilidade da nossa coragem, descem ocasionalmente de suas inexpugnáveis fortalezas e nos ajudam, elas próprias, a consumar sua derrota, muito amiúde escapariam inconquistadas, e mesmo incólumes, e livres de corpo, senão de coração.”

“Veludo e dourados não fazem um trono, nem ouro e jóias um cetro. Um trono é um trono porque o mais nobilitado nele se senta; e um cetro, porque o mais poderoso o empunha.”

“Uma palavra expressa geralmente é mais valiosa do que volumes de conselhos escritos.”

Italo Calvino (1923-1985) - escritor italiano


“Não há melhor lugar para se guardar um segredo que num romance inacabado.”

“Na escrita o que fala é o reprimido.”

“A palavra escrita tem sempre presente a anulação da pessoa que escreveu ou daquela que lerá.”
Italo Calvino e Jorge Luis Borges
“Se o que tem é uma neurose, em todas as neuroses existe um método e em todo método, neuroses.”

“Não há garantias de que a alma se salve ao escrever. Escreve, escreve, e sua alma já se perdeu.”

“Por hectares e hectares se estendem os livros-que-podes-passar-sem-ler, os livros-feitos-para-outros-usos-que-não-a-leitura, os livros-já-lidos-sem-que-haja-necessidade-de-abrí-los, porque pertencem à categoria dos já-lidos-mesmo-antes-de-serem-escritos.”

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Honoré de Balzac (1799-1850) - escritor francês


“A sociedade, o mundo, nossos hábitos, nossos costumes, vistos de perto, revelaram-me o perigo de minha crença inocente e o quanto eram supérfluos meus ardentes esforços. Essas provisões são inúteis ao ambicioso. Deve ser leve a bagagem de quem persegue a fortuna. O erro dos homens superiores é desperdiçar a juventude buscando serem dignos do favor. Enquanto os pobres acumulam força e ciência para carregar sem esforço o peso de um prestígio que os evita, os intrigantes, cheios de palavras e desprovidos de idéias, vão e vêm, surpreendem os tolos e alojam-se na confiança dos semitolos; aqueles estudam, estes marcham, aqueles são modestos, estes são ousados; o homem de gênio cala seu orgulho, o intrigante exibe o seu e necessariamente obtém sucesso. Os homens do poder têm tanta necessidade de acreditar no mérito pronto, no talento desavergonhado, que é uma infantilidade o verdadeiro sábio esperar recompensas humanas.”

“Eis aí, meu caro, como me perdi. Basta um jovem encontrar uma mulher que não o ama, ou que o ama demais, para que toda a sua vida se desarranje. A felicidade absorve nossas forças, assim como a desgraça extingue nossas virtudes.”

“Um homem é forte quando confessa sua fraqueza.”

“Entre a palavra de honra de um advogado e a de uma atriz, não hesite: acredite na atriz.”

“Desconfie das mulheres gordas: elas são muito sutis na inveja.”

“(...) os homens de talento transmitem aos tolos algumas migalhas de seu espírito, enquanto os tolos partilham com eles em abundância o ar feliz que os caracteriza. É por essa troca que tudo se anima.”

quinta-feira, 16 de junho de 2011

José Saramago (1922-2010) - escritor português


“Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratular-nos ou pedir perdão, aliás, há quem diga que isso é que é a imortalidade de que tanto se fala.”

“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.”

“Ao pé disto, cabe perguntar se não teria merecido mais prêmio que castigo a puríssima inocência que levou a nossa mãe e o nosso pai a provarem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. A verdade, digam o que disserem autoridades, tanto as teológicas como as outras, civis e militares, é que, propriamente falando, não o chegaram a comer, só o morderam, por isso estamos nós como estamos, sabendo tanto do mal, e do bem tão pouco.”

“Se eu tivesse que condensar numa só palavra a atitude de espírito que considero necessária nos dias de hoje, essa palavra seria NÃO. Não podemos aceitar o mundo que nos querem obrigar a viver e para sempre. Então, a isso, há que se dizer NÃO todos os dias e em todas as circunstâncias...”
José Saramago por Sebastião Salgado

terça-feira, 14 de junho de 2011

V. S. Nailpaul (1932) - escritor britânico nascido em Trinidad e Tobago


“O trem tem muitos vagões e várias classes, mas passa pela mesma paisagem.”

“Um dia, passando de carro pela praia, ouviu alguém pedindo socorro no mar e reconheceu a voz de seu benfeitor. Imediatamente mergulhou, deu com a cabeça numa pedra submersa e afogou-se. O benfeitor conseguiu salvar-se.”

“- O seu problema é que no fundo você não acredita. Uma vez havia um homem como você. Ele queria zombar de um homem como eu. Então um dia, quando o homem como eu estava dormindo, o outro jogou uma laranja no colo dele, pensando: ‘Garanto que esse bobalhão vai acordar e dizer que Deus jogou a laranja’. Então o homem acordou e começou a comer a laranja. Aí o outro homem veio e disse: ‘Imagino que foi Deus que lhe deu essa laranja.’ ‘É’, disse o outro. ‘Pois vou lhe dizer uma coisa: não foi Deus, não. Fui eu.’ ‘Pois olhe’, disse o outro homem, ‘enquanto eu dormia eu rezei pedindo a Deus uma laranja.’”

“A primeira história era sobre um homem que estava desempregado há meses. Estava morrendo de fome; seus cinco filhos também passavam fome; sua mulher estava tendo mais um filho. Era dezembro, e as lojas estavam cheias de comida e brinquedos. Na véspera de Natal, o homem arranjou emprego. Ao ir para casa aquela noite, foi atropelado e morto por um carro, o qual nem parou.
- Excelente – disse o Sr. Biswas – Gostei do detalhe do carro que nem parou.
Misir sorriu e disse, feroz:
- Mas a vida é assim. Não é um conto de fadas. Nada dessas coisas de era-uma-vez, essas bobagens. Escute esta.
A segunda história de Misir era sobre um homem desempregado há meses e que estava morrendo de fome. Para sustentar sua família numerosa, começou a vender tudo o que tinha, e por fim só lhe restou um bilhete do sweepstake no valor de dois xelins. Ele não queria vendê-los, mas um de seus filhos ficou gravemente doente e precisava de um remédio. O homem vendeu o bilhete por um xelim e comprou o remédio. A criança morreu; o bilhete que ele havia vendido foi premiado.
- Excelente – disse o Sr. Biswas – O que aconteceu?
- Com o homem? Por que é que você pergunta pra mim? Use a sua imaginação.”

Mary Shelley (1797-1851) escritora britânica


“Estranha e complexa a natureza da alma, que tão-somente por meio de débeis fios nos liga ao êxito ou ao fracasso.”

“Os filósofos modernos devem muito a esses homens (Cornélio Agripa e Paracelso), que forneceram a maior parte das bases do seu conhecimento. Eles legaram-nos a fácil tarefa de dar nomes novos e ordenar em classificações correlatas os fatos cuja descoberta concorreram em grande parte. Mesmo quando falsamente dirigidos, os esforços dos homens de gênio sempre contribuem para beneficiar a humanidade.”

“Aprenda, se não pelos meus preceitos, pelo menos por meu exemplo, o perigo que representa a assimilação indiscriminada da ciência, e quanto é mais feliz o homem para quem o mundo não vai além do seu ambiente cotidiano, do que aquele que aspira tornar-se maior do que sua natureza lhe permite.”

“Mente calma, a salvo de paixões perturbadoras, são requisitos do ser humano em seu estado normal. Não pode a busca do saber ser levada à conta de exceção dessa regra. Se o estudo, por qualquer forma, tende a debilitar nossas afeições, nosso gosto pelos prazeres simples, trata-se então de uma atividade ilícita, que não se ajusta à mente humana. Se essa norma fosse sempre observada, se todo homem estabelecesse um limite entre seus misteres e sua vida afetiva, a Grécia não teria sido colonizada sem maiores tumultos, e os impérios dos astecas e dos incas não teriam sido aniquilados.”

“Mais mutáveis que os acidentes da vida são os da própria natureza humana.”

“Por que – ai de mim! – há de o homem vangloriar-se de sensibilidades mais amplas do que as que revelam o instinto dos animais? Se nossos impulsos se confinassem à fome, sede e desejo, poderíamos ser quase livres. Somos, porém, impelidos por todos os ventos que sopram, e basta uma palavra ao acaso, um perfume, uma cena para provocar-nos as mais diversas e inesperadas emoções.”

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Marco Aurélio (121-180) - imperador-filósofo romano


“Da vida humana, a duração é um ponto; a substância, fluida; a sensação, apagada; a composição de todo o corpo, putrescível; a alma, inquieta; a sorte, imprevisível; a fama, incerta. Em suma, tudo que é do corpo é um rio; o que é da alma, sonho e névoa; a vida, uma guerra, um desterro; a fama póstuma, olvido.”

“É mister também ter sob as vistas fatos como o seguinte: até os acidentes dos produtos da natureza têm sua graça e sedução.
Por exemplo, na assadura, o pão fende-se em alguns lugares; as rachaduras assim formadas, contrária, de certa maneira, aos propósitos da panificação, têm o seu atrativo e excitam particularmente a vontade de comer. (...)
Assim, a quem tem sensibilidade e inteligência profunda do que há no todo, quase nada, mesmo entre os acidentes advindos como conseqüências, deixaria de ostentar uma graça peculiar; não menor prazer experimentará contemplando as fauces hiantes das feras na realidade do que nas imitações exibidas pelos pintores e escultores; seus olhos experimentados poderão ver certa perfeição e encanto mesmo nas velhas e nos velhos, e uma graça sedutora nas crianças.”

“Cumpre ser direito; não desentortado.”

“Se alguém pode confundir-me e provar que estou errado em minhas opiniões ou atos, eu mudarei com prazer. Procuro a verdade; ela jamais causou dano a ninguém; dano sofre quem persiste no seu engano e ignorância.”

“Aquilo que iniciamos já é uma realização.”

“Quem ama a glória situa o seu bem numa atividade alheia; quem ama o prazer, em suas próprias realizações; quem tem inteligência, em seus próprios atos.”

“Cada qual vale tanto quanto vale o alvo de seus esforços.”

“A arte de viver é mais semelhante à luta que à dança em nos mantermos eretos e preparados para os acontecimentos imprevistos.”

“Quando tiveres a satisfação de prestar um benefício, e outrem a de tê-lo recebido, para que ainda procuras, como os insensatos, uma terceira, a de saberem que fizeste o bem ou a de receberes a paga?”
“A perda nada mais é que mudança.”

Leon Tolstói (1828-1910) - escritor russo


“Todas as famílias felizes se parecem entre si; as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira.”

“Resposta, só aquela que a vida costuma dar a todas as questões complexas e insolúveis: viver o dia-a-dia, isto é, divertir-se.”

“Seja qual for o horror do assassino diante da vítima, jamais aquele deixa de sentir a necessidade de esconder o cadáver, de cortá-lo em pedaços, de colher os benefícios do crime cometido.”

“A salvação e o suplício do homem estão em que, quando ele vive de maneira errada, pode enevoar-se a fim de não ver a miséria da sua condição.”

domingo, 12 de junho de 2011

Clarice Lispector (1920-1977) - escritora brasileira


“Sempre não acaba nunca.”

“Tanto em pintura como em música e literatura, tantas vezes o que chamamos de abstrato me parece apenas o figurativo de uma realidade mais delicada e mais difícil, menos visível a olho nu.”

“Escrever é como fazer um galinheiro de ripas no meio de um vendaval.”

“Ah, viver é tão desconfortável. Tudo aperta: o corpo exige, o espírito não pára, viver parece ter sono e não poder dormir – viver é incômodo. Não se pode andar nu, nem de corpo nem de espírito.”

Sêneca (4 a.C.—65 d.C.) - filósofo romano


“As despesas de ordem literária, as mais justas de todas, não são estas mesmas razoáveis, a não ser que sejam moderadas. Para que servem inúmeros livros e bibliotecas, se o proprietário encontra apenas o tempo em sua vida para ler as etiquetas? Uma profusão de leituras sobrecarrega o espírito, mas não o ilustra; e melhor seria aplicar-se muito a um pequeno número de autores do que vagar no meio de muitos. Quarenta mil volumes foram queimados em Alexandria. Quantos outros exaltam este esplêndido monumento da magnificência real, como Tito Lívio, que o chama a obra-prima do gosto e da solicitude dos reis. Eu não vejo lá nem gosto nem solicitude, mas orgia da literatura; e quando digo da literatura minto, pois o cuidado pelas letras lá não era cultivado: aquelas belas coleções só eram constituídas para amostra. Quantas pessoas desprovidas da mais elementar cultura têm também livros, que não são de modo algum instrumentos de estudo, mas que adornam suas salas de refeições! Compremos os livros dos quais temos necessidade, não os compremos para ostentação.
É mais moral, dizes tu, assim gastar seu dinheiro, em lugar de desperdiçá-lo em vasos de Corinto e em quadros. Há vício desde que haja excesso. Por que esta indulgência para um homem que coleciona armários de cidreira e de marfim, que compra obras completas de autores desconhecidos ou medíocres, para bocejar no meio de tantos milhares de volumes, não aproveitando de seus livros a não ser as encadernações e os títulos? Eis como verás em casa dos mais insignes preguiçosos toda a coleção de oradores e de historiadores e estantes para livros construídas até o teto: pois hoje em dia, ao lado dos banhos nas termas, a biblioteca tornou-se um ornamento obrigatório de toda casa que se preza. Eu perdoaria perfeitamente esta mania, se ela nascesse de um excesso de amor ao trabalho; mas estas obras sagradas, dos mais raros gênios da humanidade, com as estátuas de seus autores, que assinalam sua classificação, são adquiridas para serem vistas e para decorarem as paredes.”

“Assim devemos aplicar-nos a não considerar odiosos, mas ridículos, os vícios dos homens e a imitar Demócrito antes que Heráclito: este não podia aparecer em público sem chorar, o outro sem rir, um não via a não ser a miséria em todas as ações dos homens, o outro só tolices. Aceitemos, pois, todas as coisas superficialmente e suportemo-las com bom humor: pois está mais em conformidade com a natureza humana rir-se da existência do que lamentar-se dela.”

“É preciso freqüentemente reconhecermo-nos em nós mesmos: pois a relação com as pessoas diferentes demais de nós perturba nosso equilíbrio, desperta nossas paixões, irrita nossas restantes fraquezas e nossas chagas ainda não completamente curadas. Misturemos, todavia, as duas coisas: alternemos a solidão e o mundo. A solidão nos fará desejar a sociedade e esta nos reconduzirá novamente a nós mesmos; elas serão antídotos, uma à outra: a solidão, curando nosso horror à multidão, e a multidão, curando nossa aversão a solidão.”

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Epicuro (341 a.C.-270 a.C.) - filósofo grego


“Entre os animais que não puderam fazer pactos para não provocar nem sofrer danos, não existe justo nem injusto; e o mesmo sucede entre povos que não puderam ou não quiseram concluir pactos para não prejudicar nem ser prejudicados.”

Nunca se protele o filosofar quando se é jovem, nem canse o fazê-lo quando se é velho, pois que ninguém é jamais pouco maduro nem demasiado maduro para conquistar a saúde da alma. E quem diz que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que ainda não chegou ou já passou a hora de ser feliz.”

“Assim como realmente a medicina em nada beneficia, se não liberta dos males do corpo, assim também sucede com a filosofia, se não liberta das paixões da alma.”

“Não é ao jovem que se deve considerar feliz e invejável, mas ao ancião que viveu uma bela vida. O jovem na flor da juventude é instável e é arrastado em todas as direções pela fortuna; pelo contrário, o velho ancorou na velhice como em um porto seguro e os bens que antes esperou cheio de ansiedade e de dúvida os possui agora cingidos com firme e agradecida lembrança.”

“Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se quer e não pode, é impotente: o que é impossível em Deus. Se pode e não quer, é invejoso: o que, do mesmo modo, é contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é invejoso e impotente: portanto nem sequer é Deus. Se pode e quer, o que é a única coisa compatível com Deus, donde provém então a existência dos males? Por que razão é que não impede?”
O Jardim de Epicuro

Mario Quintana (1906-1994) - poeta brasileiro


“O que prejudica a minha preguiça prejudica o meu trabalho.”

“Cá entre nós: os clássicos escreviam tão bem porque não tinham os clássicos para atrapalhar.”

“As pessoas sem imaginação podem ter tido as mais imprevistas aventuras, podem ter visitado as terras mais estranhas... Nada lhes ficou. Nada lhes sobrou. Uma vida não basta apenas ser vivida: também precisa ser sonhada.”

“Sonhar é acordar-se para dentro.”

“Livros não mudam o mundo, o que muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas."
“As árvores parecem mãos de enterrados vivos.”

“Os espelhos partidos têm mais luas.”

“...te amo a perder de vista...”

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Albert Camus (1913-1960) - escritor e filósofo argelino


“Somos responsáveis por aquilo que fazemos, o que não fazemos e o que impedimos de fazer.”

“Quando pensamos muito sobre o homem, por trabalho ou vocação, às vezes sentimos nostalgia dos primatas. Estes não tinham segundas intenções.”
Jacques Lacan, Cecile Eluard, Pierre Reverdy, Louis Leiris, Pablo Picasso, Fanie de Campan, Valentine Hugo, Simone de Beauvoir, Brassai
Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Michel Leiris, Jean Abier
“Os homens só se convencem de nossas razões, de nossa sinceridade e da gravidade de nossos sofrimentos com a nossa morte. Enquanto estivermos vivos, nosso caso é duvidoso, só temos direito a seu ceticismo.”

“Chamam-se verdades primeiras as que descobrimos depois de todas as outras.”

Fiódor Dostoiévski (1821-1881) - escritor russo

“Não existem crimes nem pecados; o que existem são famintos.”

“O homem é um déspota por natureza: gosta de causar sofrimento.”

“A humanidade se divide em duas categorias: a dos homens ordinários e a dos extraordinários. A primeira categoria é unicamente propensa a procriação da espécie, enquanto a segunda possui o dom ou a inteligência de dizer uma palavra nova. A primeira é sempre a verdadeira dominadora e a segunda é a futura. Os homens ordinários conservam o mundo e multiplicam-no materialmente, já os extraordinários movem-no e conduzem-no para a sua finalidade. Em resumo: tanto uns como outros têm o perfeito direito de existir.”

“Apesar de todas suas boas qualidades era, de fato, um imbecil. Aderia ao progresso e à nova geração... apaixonadamente. Pertencia a essa inúmera e variada legião de indivíduos medíocres, de fracassados vulgares que não aprenderam nada a fundo, que aderem de um momento para o outro às idéias que estão na moda, para logo em seguida a degradarem e desacreditarem e, num abrir e fechar de olhos, ridicularizarem tudo quanto anteriormente apoiaram, ainda que fosse da maneira mais sincera.”

“Tudo depende do ambiente, do meio em que o homem se encontra; tudo consiste no meio; o homem, em si mesmo, não é nada.”

“De cem coelhos, nunca se faz um cavalo; de cem suspeitas, nunca se faz uma prova.”

“Como é perigoso esse entusiasmo reprimido, orgulhoso, na juventude!”

“Sabe o que significa sofrer, e não sofrer por algo determinado, mas, simplesmente, que é preciso sofrer? Significa aceitar o sofrimento, e, se for da parte do poder, tanto melhor.”

“Raios me partam! A gente de baixa condição embriaga-se; a juventude instruída, devido à ociosidade, consome-se em sonhos e desvarios imprecisos, excita-se com teorias; (...)”

“O vício! Deixe-se disso! Mas vou responder-lhe ordenadamente a respeito das mulheres, primeiro em termos gerais; repare, eu tenho inclinação para falar. Diga-me: por que havemos de virar as costas às mulheres se elas nos agradam? Ao menos é uma ocupação.”

“Transforme-se num sol e todo o mundo o verá.”

“A literatura e a arte! Tirando a nobreza, tudo o mais se pode adquirir com o talento, a ciência, a razão, o gênio! O chapéu... ora vejamos, é um exemplo; que significa o chapéu? O chapéu é uma carapuça, mas aquilo que se esconde debaixo do chapéu, e com o chapéu se cobre, não posso eu comprá-lo!”