sábado, 25 de junho de 2011

J. D. Salinger (1919-2010) - escritor norte-americano

“Parece-me indiscutível que muita gente no mundo todo, malgrado as diferenças de idade, cultura e dotes naturais, reage com ímpeto especial em certos casos até mesmo febril, aos artistas e poetas que, além da reputação de produzirem arte de alta qualidade, têm algo de extravagantemente errado como indivíduos: um defeito espetacular de caráter ou de comportamento cívico, uma desgraça ou vícios supostamente românticos – extremo egotismo, infidelidade conjugal, surdez, cegueira, sede insaciável, tosse mortal, fraqueza por prostitutas, certa parcialidade em favor do adultério ou do incesto em larga escala, queda comprovada ou não pelo ópio ou pela sodomia etc. etc. Deus tenha piedade dessas solitárias criaturas. Se o suicídio não encabeça o rol das constrangedoras enfermidades dos homens criativos, é impossível negar que o poeta ou artista suicida sempre mereceu uma grande dose de ávida atenção, com freqüência por razões meramente sentimentais, como se ele fosse (para colocar a coisa de maneira muito mais horrível do que realmente desejo) o filhote estropiado da ninhada.”

“Quanto mais caro um colégio, mais gente safada tem.”

“Não me agrada muito ver um sujeito velho de pijama ou roupão. Fica sempre aparecendo o peito, todo ossudo e encalombado. E as pernas. Perna de gente velha na praia é sempre branca e sem cabelo.”

“Se me sentisse um pouquinho melhor ia ter que chamar um médico.”

“(Sacudi a cabeça. Eu costumo sacudir a cabeça um bocado.) – Puxa! – disse. Eu também vivo dizendo “Puxa!”, em parte porque tenho um vocabulário horroroso, e em parte porque às vezes me comporto como se fosse um garoto. Naquele tempo eu tinha 16 anos – estou com 17 agora – mas de vez em quando me comporto como se tivesse uns treze. E a coisa é ainda mais ridícula porque tenho um metro e oitenta e cinco e já estou cheio de cabelos brancos. Estou mesmo. Um lado da minha cabeça – o direito – tem milhões de cabelos brancos desde que eu era um garotinho. Apesar disso, às vezes me comporto como se tivesse doze anos. É o que todo mundo diz, principalmente meu pai. Até certo ponto é verdade, mas não é totalmente verdade. As pessoas estão sempre pensando que alguma coisa é totalmente verdadeira. Eu nem ligo, mas tem horas que fico chateado quando alguém vem dizer para me comportar como um rapaz da minha idade. Outras vezes, me comporto como se fosse bem mais velho – no duro – mas aí ninguém repara. Ninguém nunca repara em coisa nenhuma.”

“Não é preciso pensar muito quando se fala com um professor.”

“Todos os imbecis detestam ser chamados de imbecis.”

“Normalmente, eu gosto de andar de trem, principalmente de noite, com as luzes acesas e as janelas tão escuras, e um desses sujeitos passando pelo corredor, vendendo café, sanduíches e revistas. Normalmente eu compro um sanduíche de presunto e mais ou menos quatro revistas. Num trem, de noite, sou até capaz de ler uma dessas estórias imbecis sem vomitar de nojo. Uma dessas estórias com uma porção de machões de queixo ossudo, chamados David, e uma porção de garotas bestas chamadas Linda ou Márcia, que estão sempre acendendo os cachimbos dos David para eles. Normalmente, consigo ler até mesmo uma dessas estórias cretinas se estou andando de trem, de noite. Mas dessa vez foi diferente. Pura e simplesmente, não estava no estado de espírito necessário. A única coisa que fiz foi tirar meu chapéu de caça e guardá-lo no bolso. De repente, uma dona tomou o trem em Trenton e sentou ao meu lado. Já era um bocado tarde e tudo, e por isso o vagão estava praticamente vazio, mas ela sentou bem ao meu lado, e não em qualquer banco vazio, porque vinha carregando uma mala enorme e eu estava logo no corredor, onde o condutor ou qualquer um podia tropeçar nela. Estava usando umas orquídeas, como se tivesse acabado de sair de uma baita duma festa ou coisa parecida. Acho que ela devia ter uns quarenta ou quarenta e cinco anos, mas era um bocado bonita. Sou doido por mulher. No duro. Não que eu seja nenhum tarado nem nada, embora seja bastante macho. O negócio é que eu gosto mesmo das mulheres. Elas estão sempre deixando a porcaria das malas delas bem no meio dos corredores.”

“A maioria das pessoas ou não sabem sorrir ou têm um sorriso pavoroso.”

“... tinha tanta sensibilidade quanto um assento de privada.”

“Não faz mal. A gente pode fumar até eles começarem a reclamar.”

“Quando estou com gente burra fico burro também.

“Não há uma boate no mundo onde a gente possa ficar muito tempo, a não ser que tome umas e outras e fique logo de porre. Ou então, a não ser que a gente esteja com alguma garota que deixe o sujeito maluco.”

“Ele é tão bom que chega quase a ser chato.”

“As pessoas estão sempre atrapalhando a vida da gente!”

“As pessoas sempre batem palmas pelas coisas erradas. Se eu fosse pianista, ia tocar dentro de um armário. Juro por Deus que, se fosse um pianista, ou um autor, ou coisa que o valha, e todos aqueles bobalhões me achassem fabuloso, ia ter raiva de viver. Não ia querer nem que me aplaudissem.”

“O que eu não gasto, acabo perdendo.”

“O vestíbulo estava inteiramente deserto, cheirando a cinqüenta milhões de cigarros apagados.”

“Não é nada engraçado ser covarde.”

“Dinheiro é uma droga. Acaba sempre fazendo a gente se sentir triste pra burro.”

“Quem é que quer flores depois de morto? Ninguém.”

“É engraçado, basta a gente dizer alguma coisa que ninguém entende para que façam praticamente tudo que a gente quer.”

“É gozado, os adultos ficam horríveis quando estão dormindo de boca aberta, mas as crianças não. As crianças ficam cem por cento. Podem até ter babado todo o travesseiro, que continuam cem por cento.”

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